Acredito que no futuro, considerando o aumento constante de exigências de mercado, o profissional de vendas deverá ter no mínimo uma faculdade de psicologia para exercer sua profissão.
Certa vez fui visitar um amigo em Atlanta, Geórgia, USA, que trabalhava em um famoso restaurante. Acostumado com os padrões de profissionalismo brasileiro, ele reclamava muito o fato de ter de estudar diariamente um manual de normas e procedimentos de mais de 200 páginas, pois todo dia, antes de iniciar o expediente, seu gerente sorteava um da equipe para responder perguntas pertinentes àquele material de estudo.
Os grandes magazines japoneses possuem salas de sorriso, local onde os vendedores são treinados para sorrir, considerando que o sorriso aumenta sensivelmente as vendas. Aqui no Brasil dá-se a impressão, sem querer generalizar, que só os esportistas levam a sério o treinamento.
Um dos headhunters mais respeitados dos Estados Unidos, James M. Citrin entrevistou 50 esportistas famosos e constatou que não existem caminhos fáceis para o sucesso. Os atletas de sucesso se esforçam e treinam muito mais do que os outros. Quanto mais treinam, melhor é a sua performance. É esse o diferencial em relação ao atleta comum. Rogério Ceni, goleiro do São Paulo Futebol Clube, por exemplo, treina aproximadamente uma hora e meia a mais que os outros jogadores. Se você quer um resultado a mais, tem que fazer algo a mais. Isto é lei da Vida.
Considerando esses casos de amadorismo em vendas, na minha opinião a falha é da gerência que não acompanha, não treina, não exige e não conhece o profissional da sua equipe.
Sucessivos eventos de decepção são recados claros e silenciosos nos informando que nosso grau de ilusão transbordou os limites do bom senso. Um empresário amigo, certa vez argumentou que não existem profissionais acomodados, desanimados e muito menos com baixa produtividade. Existem sim profissionais mal liderados.
Davison de Lucas - diretor da M.Davison & associados
Consultor Organizacional e Palestrante
www.mdavison.com.br
NÃO BASTA TER VISÃO EM VENDAS
Todo profissional de vendas deve elaborar a sua visão de futuro, que significa definir onde se encontrará em uma determinada época futura. A visão de futuro nada mais é do que metas a serem atingidas, que por sua vez devem ser desafiadoras e inspiradoras, pois caso contrário não gerará motivação. É lógico que, além disso, são necessários estratégias, estruturas, recursos e muita força de vontade. Mas isso tudo não basta. Conheço muitos vendedores disciplinados e bem treinados que cumprem corretamente suas tarefas, mas os seus resultados deixam a desejar. Seus esforços são quase que em vão. Para esses casos a receita, sem sombra de dúvida, é clarear o caminho. Sem luz espiritual ocorrem acontecimentos sem sentido. A mente fica confusa e a vida se enrola. Não é fácil caminhar pelas complexidades da vida no escuro. Temos que ficar atentos aos nossos pensamentos, devido aos seus poderes de atrapalhar e contribuir. A escolha é uma constante na vida. Fazemos centenas delas durante o dia e encontramos dificuldades em enxergar a verdade, porque a mente geralmente despreza os nossos sentidos profundos. Não bastam a visão, o olfato, a audição, o tato e a experiência. É necessário ir além. A prece é uma ferramenta que clareia o caminho.
Quando oramos entramos em sintonia com freqüências de pensamentos nobres e benevolentes.
A prece além de higienizar pensamentos e sentimentos, atrai boas resoluções e inspirações. Com a mente iluminada fica muito mais fácil decidir e escolher. A visão fica ampliada.
O Ser Humano é um verdadeiro imã magnético, atraindo energias, pessoas e situações pertinentes ao seu mundo mental. Somos constituídos de corpo e alma. Não tem sentido só cuidar dos valores do corpo. A alma necessita da oração para trafegar. Não é a toa que algumas grandes corporações adquiriram o hábito de iniciar seu expediente com leituras de textos positivos, que equivalem à uma oração, respeitando todas as religiões.
Davison de Lucas - diretor da M.Davison & associados
Consultor Organizacional e Palestrante
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Uma Reunião Espírita
- Patrícia - disse ela -, estou ansiosa e também preocupada. Será que Walter irá aceitar a ajuda oferecida?
- Mostram-se como os deixamos, somente alguns mais agitados. Serão trazidos do Posto para o salão logo mais.
Enquanto aguardava, fui rever amigos desencarnados. Após muitos abraços e conversas, tomamos nossos lugares, porque logo começariam os trabalhos programados. Meu pai sempre chega bem antes da hora e lá fica orando e meditando. Porém, muitas pessoas chegam também antes, para conversar com ele e sanar dúvidas, no que procura ele atender a todas. Os encarnados foram chegando e me sentia bem em vê-los, pois convivi com muitos deles e alegrava-me por tê-los como amigos. Emocionada, escutei meu pai:
Amar a Deus é tê-Lo como centro da própria vida, vê-Lo, senti-Lo, ter afeto por Ele em todas as suas manifestações. Jesus disse: "Senhor, graças te dou por ter ocultado isto aos sábios e prudentes e revelado aos simples e pequeninos". Sábio não é o mesmo que erudito, o que muito conhece, que tem a qualquer momento de cor as citações do patrimônio intelectual e religioso da humanidade. Não condenamos o conhecimento dos livros sacros, pois eles nos são necessários, mas reprovamos a maneira como muitos o utilizam. O conhecimento representa um meio para que conheçamos a experiência dos que nos antecederam. Esses arquivos ajudam o ser humano na evolução, mas devemos crescer pela conduta reta, pelo espírito. E para que esses ensinos façam parte de nossa vida, é necessário que o exemplo do Nazareno seja compreendido e não decorado, como temos feito há quase dois mil anos. Ao compreendê-los veremos que Jesus via e vivia, assim já não mais faremos a Sua vontade e sim a nossa, que passa a ser como a Dele, porque veremos como Ele o que é falso e o que é verdadeiro.
Um freqüentador indagou a meu pai:
- O maior drama do homem não está na pressão do meio, nem nas dores externas. A própria morte física é passageira - respondeu meu genitor. - O grande drama, a grande dor é o conflito que existe entre o que somos e o que nos ensinaram que deveríamos ser. Temos aprendido que necessitamos reprimir os impulsos egoístas, para poder viver bem com nosso próximo. Enquanto estivermos valorizando mais a vontade de outros, seja quem for, o conflito permanece e não haverá mudança radical em nosso relacionamento com a vida. Porque, apesar de achar certo fazer o que eles querem, e disto esperar créditos e ganhos, a realidade é que ainda permanece a vontade de fazer o que se gosta.
perdemos todo o interesse de nos importarmos com a vida. Por isso, precisamos aprender a aceitar a vida como ela é, sem querer que seja diferente. Mudar para melhor está em nossas mãos, como também aceitar sem contestações o que a vida nos proporciona, mesmo aparentemente em situações e circunstâncias desfavoráveis, pois é nos momentos difíceis que nos superamos, isso se não tivermos dó de nós mesmos. Precisamos compreender que não somos somente filhos de Deus, mas muito mais, pois que fazemos parte de Sua própria manifestação. Compreendendo isto, entenderemos a diferença existente nos dois filhos, na parábola evangélica do Filho Pródigo. O mais velho nunca saiu de casa, sempre fez a vontade do Pai, mas viveu sempre insatisfeito, porque no seu íntimo não sentia as coisas do Pai como suas. E o Pai não o sentia perto de si, apesar de amá-lo muito. O mais novo, depois de se afastar, de esbanjar o que lhe pertencia, conheceu a si próprio e compreendeu que ele e o Pai eram um só. E, se eram um só extinguiram-se aí todas as cobranças, todos os conflitos, permanecendo somente uma única coisa, a unidade com Deus, em todas suas manifestações.
vos aliviarei, pois meu jugo é suave e meu peso é leve". O amado Mestre era viril em todas suas respostas, não no sentido de machismo, mas de pureza, simplicidade e inocência austera. Dificuldades sempre as teremos, porque relacionamento é atrito de interesses. E toda cadeia de vida é um constante atrito de funções das manifestações de Deus. E o conjunto harmônico de todas suas funções compõe a sintonia do Universo. Particularmente, esse atrito se traduz pelo conflito entre o que queremos
muito sua maneira de viver seus conflitos. Uma médium que há tempo freqüenta a casa, trabalhando regularmente, relatou seu drama íntimo, reclamando que Deus foi e tem sido injusto com ela.
Isso acontece em algumas situações que requerem um estudo maior, com a procura de soluções para os inúmeros problemas que lhe encaminham, mas nunca deixando de
A reunião começou e transcorreu tranqüilamente, conforme narrarei no capítulo seguinte. Tempos depois me encontrei com Elisa que, curiosa, me indagou sobre esse fato:
- Elisa, não posso responder por ele. Hoje, papai está em viagem de negócios e, pelo que sei, o assunto somente poderá ser resolvido à tarde. Neste momento, está almoçando. Vamos até ele!
Isto acontece normalmente quando está só e sem obrigações físicas. Então carinhosamente lhe perguntei:
Como sempre faz, comparou um relacionamento físico entre as pessoas e o assunto questionado, simbolizando como deveria ser o relacionamento entre Deus e nós, e nós e Deus.
Aí está sua resposta:
Muitas vezes, o justo ou o injusto baseia-se, de acordo com nossa compreensão, no que damos e no que achamos que devemos receber em troca. Sentimo-nos injustiçados, porque quase sempre temos como meta nossa distração e o preenchimento da vida com prazer. Transformamos as funções e necessidades do corpo físico a capacidade de pensar como fim da nossa existência. Não chegamos a olhar a vida como um todo e a desempenhar eficientemente nossa parte neste conjunto. Já imaginaram se o coração se sentisse injustiçado por não ter folga e nem descanso físico? Que seria do homem? Diante desse exemplo, aprendemos que cada um deve fazer o que lhe compete, sem esperar recompensas, e sempre consciente de que deve utilizar o potencial nobre que a vida lhe concedeu. Apesar de insignificantes diante do cosmo, fazemos parte dele. Portanto, precisamos desempenhar nossa função como parte da vida e não viver para os nossos prazeres e conquistas, materiais ou espirituais.
Na Terra, cada variedade de raça recebe, com maior ou menor intensidade, o que necessita para desempenhar e enobrecer a espécie a que pertence. O grupo humano não foge à regra geral e natural, somente foi acrescentada em nós a faculdade da liberdade de escolha, para cumprirmos a tarefa para a qual fomos chamados. Se nos harmonizamos com as Leis Divinas, nos sentiremos felizes a caminho do progresso, enquanto que, se as desprezamos, criamos um ambiente vibratório individual de desarmonia, que poderá atingir aqueles que nos cercam, e terá ressonância de vibrações inferiores. Será que Deus criou a Terra, com todo seu aparato animal e vegetal, somente para o desfrute do homem? O ser humano foi criado para usufruir de tudo à custa dos que caminham com ele? Não! Pelos seus atos de abuso, cuja conseqüência não compreende, presume que Deus lhe está sendo injusto. Temos quase sempre, em nossas existências, buscado o significado da vida, tentando adivinhar por que razão Deus criou o homem. Talvez façamos isso, por darmos importância demais em pensar o que somos, ou pelos sentimentos que nos transmitiram, de tão importante questão. Deus é profundamente simples. Para que possamos ouvi-Lo e senti-Lo, é preciso antes de tudo ser simples como Ele. Um exemplo da simplicidade de Deus é sua onipresença tanto em nosso Cristo, quanto num verme desprezado por todos. Devemos nos despojar do cultivo da auto-valorização: vaidade, orgulho e presunção, para nos tornarmos melhores. Se não assumirmos nossa participação no conjunto do orbe terráqueo, nos sentiremos excluídos de obrigações e responsabilidades. E aí, o que acontece com os habitantes da Terra? A conseqüência é esta que estamos vendo: destruição e devastação do que a natureza levou milhões de anos para realizar. Não nos sentindo parte do Universo, parece que estamos no mundo somente para usar e desfrutar as coisas, não tendo nada a responder, sem responsabilidades com o que acontece com tudo e com todos, alheios aos que sofrem dores e misérias.
14 - As passagens citadas do Evangelho não estão na íntegra e nem cito capítulo ou versículo. Escrevendo os ditos de meu pai, fiz como ele costuma fazer, nada decorado, sim compreendido. (N.A.E.)
(Capítulo do Livro “O Vôo da Gaivota”, psicografado por Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho, narrativa espiritual de Patrícia)
Por Teté Ribeiro (Colaboração para a Folha, em Nova York)
Estréia hoje no Brasil "O Gângster", 17º longa-metragem da carreira do inglês Ridley Scott, trama sobre a ascensão ao poder em Nova York de Frank Lucas, maior traficante de heroína da cidade nos anos 70, protagonizado por Denzel Washington. À Folha, o diretor de "Blade Runner", "Alien" e "Thelma e Louise" falou sobre sua facilidade para trabalhar com Russell Crowe (com quem já fez outros dois filmes), sobre a influência de "Operação França", de William Friedkin, no novo longa, e sobre a dificuldade para realizar as mais de 300 cenas previstas no roteiro de Steven Zaillian. A seguir, a íntegra da entrevista, realizada em duas partes, a primeira em Los Angeles e a segunda em Nova York, um mês depois.
Folha - Por que essa obsessão com o Russell Crowe?
Ridley Scott - Não tenho a menor idéia. Talvez tenha alguma coisa a ver com a cultura, eu sou inglês, e o Russell é parte australiano, parte neozelandês. E nós dois somos muito diretos, falamos o que pensamos. Desde “Gladiador” acabamos ficando amigos, aí fica tudo mais fácil. No meu trabalho você perde muito tempo tentando conhecer o ator, para pode tirar dele o melhor personagem possível. Com o Russell, hoje em dia, essa parte está resolvida. E ele é obviamente um dos melhores atores do cinema, então por que não?
Folha - O que acontece quando vocês não concordam com alguma coisa? Você como diretor consegue impor sua decisão a uma pessoa tão cheia de opiniões como ele?
Scott - Nem sempre. Mas as brigas são sempre boas (risos). Ele é um ótimo ouvinte. Pode não concordar com você, mas nunca deixa de ouvir e tentar entender o seu ponto de vista.
Folha - Sentiu diferença em trabalhar com dois protagonistas, sendo um seu grande conhecido e outro em sua primeira colaboração com você?
Scott - Pessoalmente sim, mas profissionalmente não. Os dois são atores que fazem lição de casa, que estudam o personagem, decoram as falas e pensam em como vão andar, falar, agir. Aí é fácil dirigir. Bons atores conhecem bem seus personagens, amadores acreditam que o talento vai trazer uma idéia brilhante na última hora. E idéias brilhantes só costumam aparecer em quem está completamente à vontade com o material que têm.
Folha - E você, o quanto se prepara?
Scott - Eu também faço minha lição de casa direitinho. E tenho mais de 40 anos como diretor, portanto, posso confiar um pouco mais nos meus instintos hoje em dia. Eu sei que vou escolher os melhores lugares para botar as câmeras no set mesmo se nunca tiver visto o set. E acho que posso dizer sem parecer presunçoso que sei iluminar uma cena para ter o clima que eu quero que tenha. Mas, sem intimidade com o material, sem ler o texto mil vezes, sem estudar cada cena mil vezes, não há instinto que salve um diretor.
Folha - Você acha que o fato de ser de outro lugar facilitou de alguma forma o seu jeito de entender e mostrar o Harlem?
Scott - Acho que sim. Quando você mora em um lugar, raramento o vê. Você se acostuma tanto a ele que não enxerga os aspectos mais interessantes, fica menos sensível aos detalhes do lugar. Eu moro nos Estados Unidos grande parte do tempo há muitos anos, meu escritório é em Los Angeles, mas tento manter meu olhar tão fresco quanto era quando cheguei neste país pela primeira vez. E ainda sou muito um inglês, isso não sai tão fácil assim de uma pessoa.
Folha - E que Nova York você prefere, a de hoje, que é segura, cara, ou a dos anos 60, talvez mais criativa, mas mais perigosa?
Scott - Eu gosto mais da de hoje em dia. Um lugar não seguro é muito interessante no cinema e nas fotos, mas para viver e trabalhar é chato. E até o Giuliani era um inferno. Hoje em dia acho que é a cidade mais importante do mundo e a mais segura entre as maiores.
Folha - Mas empobreceu culturalmente, não? Os artistas iniciantes que moravam em Nova York nos anos 60, 70, não conseguiriam viver na cidade nos dias de hoje.
Scott - Pode ser, mas a TV tem mais culpa nisso do que o Giuliani (risos). E o avanço da tecnologia deu uma banalizada no entretenimento, eu vejo as pessoas com seus iPods minúsculos vendo filmes que foram feitos para ser vistos no cinema e acho o fim do mundo. Não é possível que as pessoas não tenham nada melhor para fazer do que assistir um filme numa tela de 2 cm por 4 cm. Me falaram que é muito útil e tal, e eu sei que devo parecer um velho gagá falando isso, mas nada me convence que um aparelho tão pequeno possa servir como tela de cinema.
Folha - Foi muito difícil fazer a transição da publicidade para o cinema? E é verdade que todo publicitário sonha em ser cineasta?
Scott - A publicidade foi minha escola de cinema. Fiz mais de 2.000 comerciais antes de começar a fazer cinema, e no mundo inteiro. Então foi muito fácil, enfrentei muitos problemas no set que depois apareceram em outras formas nos filmes que eu dirigi. E acho que sim, todo publicitário quer ser cineasta, pelo menos no começo. Tem gente que acaba se apaixonando por aquela linguagem mais rápida e não se sente frustrado em dedicar sua vida a vender o produto dos outros. Mas eu não seria feliz fazendo só isso.
Folha - Você produz muito mais do que dirige hoje em dia. O que te faz escolher uma história para dirigir?
Scott - O que eu leio. Tenho que me apaixonar perdidamente pelo roteiro, senão não tenho energia para todo o trabalho que vem pela frente. Para produzir vale um tesão passageiro, porque sei que não vou ser obrigado a passar um ano só pensando naquele assunto. Mas, quando me apaixono, me apaixono mesmo, profundamente, por isso costumo produzir todos os filmes que eu dirijo.
Folha - Você se dá melhor com dramas que com comédias…
Scott - E você quer saber por que meu último filme (“Um Bom Ano”, também com Russell Crowe) foi um fracasso, não é? Não sei. O pior é que vivo ouvindo de outros atores e de jornalistas que me entrevistam como eles gostaram do filme. Isso me deixa louco. Por que não avisaram os amigos, por que não levaram uma caravana aos cinemas? Por que não escreveram mais sobre ele?
Folha - Uma das informações mais chocantes de “O Gangster” é o uso dos aviões do Exército para transporte de heroína. Mas isso não é muito bem explicado no filme. Como a CIA não ficou sabendo? E quantos soldados e capitães do Exército estavam envolvidos?
Scott - Isso seria outro filme! A história é complicada, não teria como contar sem banalizar, e o filme já conta duas histórias, não teria como entrar em uma terceira. Mas é óbvio que a CIA também estava envolvida, e que vários soldados, pilotos, capitães estavam envolvidos. Era uma outra quadrilha, uma outra máfia.
Folha - E algum deles foi processado quando Frank finalmente foi preso e decidiu entregar os policiais corruptos?
Scott - Não, ninguém do Exército foi julgado por isso. O processo do Frank foi centrado na polícia de Nova York e nos traficantes que operavam na cidade. E pelo mesmo motivo que eu não entrei nessa história no filme. Se o processo envolvesse a CIA e o Exército, não ia durar os dois meses que durou, mas sim décadas. E o que o Ritchie Roberts queria era limpar a polícia e prender mais traficantes.
Folha - Como está o Frank Lucas hoje em dia?
Scott - Não muito bem, ele precisa de uma cadeira de rodas para se movimentar, tem uma forma muito severa de artrite. Ele está feliz e entusiasmado com o sucesso do filme, mas não está em sua melhor forma. Ele ama o filme e ama falar sobre os seus dias de glória, ele tem muita saudade do dinheiro e do poder.
Folha - Ele tem algum dinheiro?
Scott - Aparentemente não. Ele vive quase como um mendigo hoje em dia. Mas a família continua em volta dele, e ele foi ao set quase todos os dias, então pelo menos alguma pensão ele deve ter. Eu não perguntei, não entrei em detalhes. A gente queria saber muito sobre o passado dele, mas quase nada sobre o presente.
Folha - E ele se arrepende de alguma coisa?
Scott - Não. De nada. Eu fiz essa mesma pergunta, e ele me olhou com cara de assustado e perguntou: "O que eu teria para me arrepender?".
Folha - Tem uma fala no filme que poderia explicar pelo menos uma coisa que o Frank Lucas teria para se arrepender: de não ter desistido do negócio antes de ser pego. É o produtor de heroína asiático que diz “sair no auge não é a mesma coisa que desistir”. Essa fala não é do Frank, então?
Scott - Não, essa frase é do Steven Zaillian, o roteirista do filme, que é brilhante. Ninguém teria a ousadia de fazer essa sugestão para o Frank daquela época. Talvez a mãe dele, que era muito próxima, mas ela não queria saber de onde vinha todo o dinheiro do filho. A mulher devia saber, mas também não discutia o trabalho do marido. Esse roteiro é das melhores coisas que eu li nos últimos anos.
Folha - O filme tem quase três horas, dois personagens principais e dezenas de coadjuvantes mas não é complicado de entender, você não sai se perguntando quem é quem, o que um personagem quis dizer com isso ou aquilo. É tudo mérito do roteiro?
Scott - Não, peraí, eu também tenho mérito nisso. Foi um pesadelo dirigir esse filme, tem mais de 300 cenas, em mais de 100 locações, uma edição toda picotada. Por isso mesmo eu trabalhei muito na pré e na pós-produção, para não parecer uma colagem de videoclipes, o que acho insuportável, mas também para o espectador não perder interesse em uma história enquanto estivesse assistindo a partes da outra. E para se relacionar de alguma forma com os personagens secundários também, para não ficar a história de dois homens fortes e um bando de gente sem características em volta, o que acontece muito em filmes assim.
Folha - Que avaliação você faz deste filme?
Scott - Estou muito feliz com o resultado, acho que é um bom filme. Mas não é “Shrek”, ou um desses filmes de família, feitos para agradar todo mundo. “O Gângster” é um filme de gente grande, com problemas sérios, soluções difíceis. Acho que vai dar tudo certo. E esta é uma resposta muito britânica, muito subestimada (risos).
Folha - O Francis Ford Coppola, que dirigiu o filme de gângster mais famoso do mundo, foi muito questionado na época por glorificar a imagem do mafioso. Você espera uma reação parecida com essa ao seu gângster?
Scott - Acho que o que foi glorificado no caso do Don Corleone foi seu respeito às suas tradições. Parecia um filme sobre uma família real, não uma família de criminosos. O jeito como o Coppola decidiu filmar “O Poderoso Chefão” é muito grandioso, quase como uma ópera. Não estou criticando, só apontando um estilo, que não é o meu estilo. Para o meu filme, minhas inspirações vieram mais de “Operação França”. No meu filme a violência do personagem principal aparece muito mais, está sempre claro que ele pode explodir a qualquer momento, então imagino que isso tire um pouco dessa aura muito pomposa dos criminosos do filme do Coppola.
Folha - E essa é a versão final do filme? Ou em 25 anos nós vamos assistir à versão do diretor de “O Gângster”?
Scott - (Risos) O filme é esse, essa é a minha versão. Isso não acontece mais comigo. Em “Blade Runner”, que agora está sendo lançado com a versão que eu queria desde o começo, eu não era produtor e estava começando a carreira de diretor, não tive como não ceder às pressões do estúdio. Por isso, neste ano, que é o aniversário de 25 anos do filme, decidi comemorar com o lançamento da minha versão definitiva.
Folha - Mas e a versão definitiva que foi lançada 5 anos atrás?
Scott - Aquela segunda edição foi feita meio às pressas. Todo mundo sabia que o final do filme tinha sido alterado, mas ninguém tinha visto a versão original. Quando o estúdio resolveu lançar a versão do diretor, eu estava ocupado com outros projetos e não tive tempo de procurar todos os takes que queria incluir, então só alteramos o final. Mas eu não fiquei satisfeito, aquele é um filme muito importante para mim, provavelmente o que mais me marcou, por tudo que deu certo e por tudo que deu errado, então quis refazer, desta vez com tempo e com dedicação.
Folha - Então esta é a versão definitiva de “Blade Runner”?
Scott - É. Esse é o filme que eu queria ter lançado em 1982.
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