A idade do idoso
Há alguns meses eu estava viajando em férias e uma coisa me chamou a atenção: havia, em um determinado restaurante um estacionamento e dele tomava conta um senhor com cerca de setenta anos de idade. Fiz questão de fazer uma foto com o “jovem cuidador” de veículos estacionados e mostrar meu chapéu novinho em folha e meu sorriso “colgate” para o clique sem flash da minha máquina digital. E então perguntei a ele porque ficava ali, sob a chuva, cuidando de carros se nem sempre alguém o ajudava com um real sequer. E ele me disse que havia se aposentado por tempo de serviço e não encontrava mais nada para fazer. Isso me fez pensar no desvalor que nossa cultura ocidental tem com os chamados idosos. Aqui, nossos velhos são fardos tão pesados que costumamos transferir a responsabilidade a terceiros para que cuidem deles nos asilos e casas de repouso. Aqui, um homem com mais de 40 anos é inapto para buscar um novo emprego e sua experiência conta pontos (negativos, claro!) nessa busca incessante por trabalho digno que lhe permita o sustento de sua família. Aqui, um aposentado só serve para jogar xadrez na praça com os amigos e ser tratado como um inútil pelo resto da família e nunca paramos para pensar no potencial que eles possuem para contribuir para o nosso crescimento, seja pessoal, seja econômico, seja humanitário. Também não paramos para pensar nos nossos idosos na faixa dos 18 a 30 anos, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos mas infelizmente os que mais preocupam. Esses idosos desperdiçam sua existência com dramas familiares, vícios diversos e, principalmente, falta de amor. Falta amor por si mesmo, falta amor pelo próximo e por Deus acima de todas as coisas. Eles também são idosos vítimas do sistema pois não há mercado de trabalho para quem nunca trabalhou na vida e então nos sobra uma faixa etária muito pequena de seres aptos a construir um país inteiro com seu trabalho e sua mão-de-obra especializada. E se nossos idosos ensinassem nossos pequenos idosos? Talvez a experiência que falta para uns sobre para os outros... Seria uma boa saída para readaptarmos nossos valores carcomidos pelo preconceito e pela mania de digerir os enlatados dos países de primeiro mundo?
Não sei... Não sou a dona da verdade absoluta e jamais tentei ou tive a pretensão de sê-lo, mas já passei pela fase idosa número um e caminho para a fase idosa número dois. Nesse intervalo procuro absorver todo o conhecimento que me for concedido e pretendo utilizá-lo mais adiante, quando ninguém mais quiser saber a opinião de uma pobre poeta proseadora cuja vida está se apagando... Só sei de uma coisa: não quero passar por esta vida em vão e muito menos ver a minha e a sua geração ser dizimada como se idade fosse uma doença contagiosa letal. A idade não incapacita, o preconceito sim. E viva a diversidade!
10/10/2007 – 13:50 h