Talvez única possibilidade da construção de uma "ciência espiritual" ezequível - para aqueles que se propusessem essa tarefa - estaria na experienciação vivencial da cotidianidade, em simultaneidade com a nadificação existencial das adversidades do dia-a-dia, o que permitiria a prática da ressignificação permanente do ôntico; ou seja, na presentificação contínua do ser na existência, ciência que, com esse viés, teria um estatuto epistemológico privilegiado e diferenciado no mundo da cultura humana ao evidenciar o ser existencial em contraponto com o ser cognitivo. Fora isso, alguma outra possibilidade de se construir uma "ciência espiritual" ou se mascara em um subterfúgio para encobrir e dissimular recalques psicológicos, angústias e frustrações; ou nada mais é do que um discurso e um agir que se pretendem legitimar no contexto da cultura humana, como todo e qualquer discurso ou ação; e que, por este motivo, e necessariamente, se encobrem de um (pretenso) objetivismo que reifica a relação entre o sujeito e o objeto de conhecimento (incluindo-se aqui o próprio sujeito como instância a ser conhecida): uma das tarefas da filosofia seria a crítica denunciativa deste estado de mascaramento e "enrijecimento solipsista" da teoria e prática científicas (sejam elas "materialistas" ou auto-denominadas "espirituais" ou "supra-sensíveis") ao deslocar a nossa atenção para o "ser em existência" (factível e finito) e evitar abordagens que se refugiariam em categorias metafísicas e/ou em instâncias supra-mundanas. (Paul Stofell)
Publicado por Akasha De Lioncourt
em 26/07/2007 às 16h32