Bistrô da Poesia
Deguste... poesia é o alimento da alma!!!
Capa Meu Diário Textos Áudios E-books Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Meu Diário
10/09/2009 01h39
Degustação de Vinho em Minas (Luiz Fernando Veríssimo)
Degustação de vinho em Minas

- Hummm...


- Hummm...


- Eca!!!


- Eca?! Quem falou Eca?


- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?


- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...


- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!


- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?


- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!


- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!


- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é?


- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como  segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...


- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!


- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...


- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!


- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...


- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...



- O senhor poderia começar com um Beaujolais!


- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!


- Então, que tal um mais encorpado?


- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...


- Ou, então, um suave fresco!


- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!


- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!


- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima  com brabuleta...


- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?


- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?


- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?


- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!


- Mole e redondo, com bouquet forte?


- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!...


Luiz Fernando Veríssimo
  

Publicado por Akasha De Lioncourt
em 10/09/2009 às 01h39
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.