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15/05/2009 19h07
Nomes Trocados - Luiz Carlos Prates
Nomes trocados

Foto: Ronaldo Bernardi
Ronaldo Bernardi
Eu até já tinha esquecido. Na hora em que o fato aconteceu, escrevi algumas linhas num pedaço de papel e o joguei na bolsa, na minha bolsa de trabalho. Aprendi, faz tempo, que repórter que confia na memória vai viver se enroscando nas confusões e nas fraquezas da memória. A melhor memória é um pedaço de papel e alguns hieróglifos sobre ele...
Apesar do esforço, acabei esquecendo das anotações. E além disso, achar alguma coisa dentro da bolsa só mesmo por acidente. Ontem, limpando a bolsa, lá estava o papelzinho, coitado, quase sem vida.
Foi o seguinte, num certo dia destes, a Ana Maria Braga discutia no programa dela sobre crianças que ora estão emburradas e ora insuportáveis. Quando os adultos se comportavam do mesmo jeito no passado, o catálogo de doenças da Organização Mundial da Saúde dizia que elas sofriam de psicose maníaco-depressiva. Forte, não é?
Tão forte que um dia um parvo trocou o nome da moléstia — ou da característica de personalidade desses tipos — deu-lhe o nome de bipolares.

Hoje o sujeito que sobe e desce num humor oscilante é chamado de bipolar. Prefiro a velha expressão: psicose maníaco-depressiva, até por que bipolar é tudo na vida. O universo é organizado pela bipolaridade complementar. E fizeram a mesma coisa com criança mal-educada, passaram a chamá-la de hiperativa.
Mas a questão é outra. Nesse programa da Ana de que falo, uma menina, de uns 10 anos, diagnosticada como "bipolar", dizia com a maior seriedade à apresentadora que "a medicação está mudando a minha vida..."
— Ah, criança, não me diga isso, isso é frase de mulher já bem vivida, frase de mãe que vive tomando remédio para tudo quando de remédio não precisa. Precisa, isso sim, de vida, de um novo marido, de coragem, de ousadias existenciais.
As pessoas não querem ver suas verdades e criam, desenvolvem, doenças. Dando por doentes precisam de remédios, e aí fica tudo em paz nessas cabeças, já que elas pensam que estão doentes, só pensam. Mais das vezes são fortes como o Vento Sul.
Do que mais as pessoas precisam é de olhar a vida nos olhos, enfrentá-la, puxar a máscara dos seus fantasmas Como não têm coragem, adoecem, adoecem de ficção. Tem cabimento uma menina dizer que "a medicação está mudando a minha vida", tem cabimento? Ela ouviu isso da mãe dela, pobrezinha da menina. Mas imitando a mãe se torna ridícula. Raros precisam de soníferos, de antidepressivos, de ansiolíticos. Do que as pessoas precisam é de coragem para ver os seus fantasmas, enfrentá-los e mudar de vida.

Fonte: www.clicrbs.com.br/blog/jsp/default.jsp

Luiz Carlos Prates é jornalista em Santa Catarina.
Publicado por Akasha De Lioncourt
em 15/05/2009 às 19h07
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