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16/01/2009 16h19
Seta, essa paixão nacional (Bob Sharp)
Seta, essa paixão nacional
Pelo que se vê todos os dias, devemos ser
campeões mundiais no uso do indicador de direção

por Bob Sharp

Há momentos em que seria bem-vindo o retorno das setas semafóricas, aquelas que se estendiam para fora como os antigos semáforos de braço, também conhecida por "bananinha". Que Fusca chegou a ter aqui no Brasil, há quem se lembre. As setas à moda antiga aliviariam um dos tantos suplícios do nosso trânsito, ao lado de lombadas e bandidos da faixa esquerda: quem nunca ficou parado atrás de um carro, à noite, com a seta ligada aguardando entrar à esquerda ou à direita quando o sinal abrir? Dá desespero às vezes.

Aquela luz âmbar piscando à sua frente por 30 segundos, um minuto e às vezes mais tira qualquer um do sério. Se não há outra escolha senão seguir o sentido obrigatório, para que, então, usar a seta? Há duas explicações para isso. Primeiro, uma exigência do Código de Trânsito incorretamente interpretada; segundo, assim ensinam nas auto-escolas, para que o examinando não sucumba ao olhar crítico do examinador e venha a ser reprovado.

Minha filha começou a dirigir recentemente e, quando saímos juntos, fico abismado como ele usa a seta para tudo, o tempo todo. Há alguns anos, num lançamento de novo modelo de carro para a imprensa, no autódromo José Carlos Pace, em Interlagos, bairro de São Paulo, um jornalista usava a seta antes de cada curva do circuito...

Um dos grandes problemas do uso indiscriminado da seta é que de aviso de intenção ela passou a autorização -- "mas eu dei a seta...". São incontáveis as vezes, na estrada, em que um caminhão, ônibus ou automóvel avança para a sua faixa ao mesmo tempo em que a seta é ligada. Nem antes, nem depois.

O Código de Trânsito Brasileiro determina o uso da seta (indicador de direção, ou pisca-pisca, ou ainda o uso do braço) nas ultrapassagens, segundo os artigos 29 inciso XI alíneas a, c; artigo 35, nos "deslocamentos laterais" (transposição de faixas), conversões, retornos e ao tencionar parar o veículo de modo regulamentar. Não usar o equipamento (ou o braço) nessas situações constitui infração grave, segundo o artigo 196, punível com multa de R$ 127,69 e atribuição de 4 pontos ao prontuário. Mas não há previsão de punição para quem usar o indicador de direção desnecessariamente.

O uso exagerado da seta nas saídas e acessos de auto-estradas (atenção: auto-estrada não existe no nosso Código, apenas rodovia) é muito comum. O sujeito já está na faixa mais à direita, a saída é tangente e suave, de alta velocidade, e lá começa o pisca-pisca a funcionar, muitas vezes meio quilômetro antes. O mesmo acontece com freqüência nos acessos bem projetados, com extensa faixa de aceleração, em que já se toma a pista na velocidade do tráfego ou mesmo acima.

Nas ultrapassagens em rodovia/auto-estrada não faz sentido acionar o indicador se o motorista consulta os espelhos e certifica-se de que não há tráfego próximo à retaguarda. Como também ao voltar para a faixa inicial, pois aquele que foi ultrapassado sabe que isso não vai demorar a acontecer e, de qualquer maneira, está indo mais devagar do que o veículo que o ultrapassou.

O bom motorista considera o indicador de direção equipamento auxiliar, e não essencial. Sabe identificar os momentos em que seu uso é importante, por exemplo, numa rua de cidade ao perceber tráfego atrás e, ao pretender dobrar à esquerda adiante, sinalizar a intenção bem antes para que os demais possam ultrapassar pela direita (permitido pelo Código nesse caso, conforme o artigo 199), desta maneira colaborando com os "colegas" e contribuindo para a fluidez do tráfego.

Nas ruas e avenidas das cidades o indicador de direção serve muito bem para avisar que a velocidade do seu carro vai diminuir antes de dobrar à direita ou à esquerda, ou que esse é o motivo para as luzes de freio terem-se acendido. Mas isso só se você tiver se posicionado corretamente antes da manobra -- na faixa de um desses lados --, e nunca procurar transpor uma faixa imediatamente antes de dobrar. Esse erro é dos mais graves e causador dos mais sérios acidentes, principalmente envolvendo veículos de duas rodas ("Mas eu dei a seta...").

Nos cruzamentos, um motorista que esteja aguardando para efetuar a travessia será informado que o outro carro não passará à sua frente se a seta deste estiver acionada para o seu lado. Pedestres em vias de atravessar a rua podem ser ajudados pelo uso correto da seta, já que podem antever para que lado irá um que carro que se aproxima.

Outro uso apropriado do indicador de direção é chamar a atenção do motorista à frente para o fato de que você deseja ultrapassá-lo, sem recorrer à buzina ou aos faróis altos por meio da função relampejador, ambos revestidos de certa agressividade. Esse uso da seta não é previsto no Código, mas sua lógica tem prevalecido e por esse motivo é cada vez mais visto nas estradas brasileiras. Exatamente o mesmo ocorre nas autobahnen, as auto-estradas alemãs: não faz parte do Código de lá, mas todos usam.

A vantagem desse método reside em avisar a que vem atrás que você está tentando ultrapassar alguém e que só está naquela faixa por esse motivo, e que deverá retornar à anterior e conceder a ultrapassem tão logo possível. Outra, é o fato da luz piscante, intermitente, ser facilmente detectável pelo motorista do carro à frente mesmo que ele não esteja no momento olhando para qualquer dos espelhos, graças à visão periférica que todos temos.

Por isso tudo, a seta ou indicador de direção precisa passar de paixão nacional a uso racional. Todo mundo sai ganhando com isso.


Fonte:
www2.uol.com.br/bestcars/colunas/bob-113.htm
Publicado por Akasha De Lioncourt
em 16/01/2009 às 16h19
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