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08/11/2008 20h55
Basta! Por Marcos Antonio Gama
Basta! Por Marcos Antonio Gama


  
Após a constituinte de 88, um plano para humilhar a Polícia Civil é executado no Estado de São Paulo. Sentindo a cada dia essa prática, as entidades representativas da categoria tentam, sem êxito, dialogar, negociar ou se comunicar por qualquer meio com o Executivo, secretários ou deputados do governo. Não só para reagir ao escárnio dos baixíssimos vencimentos recebidos a cada ano, mas também para apresentar soluções aos novos anseios da população. Muitas delegacias dependem cada vez mais de favores para obter material de trabalho ou manter o patrimônio público. É o poder econômico ocupando o lugar do Estado – uma prática tão perigosa quanto o crime organizado. Mas tudo que parte da Polícia Civil eles ignoram, têm aversão, acham que somos torturadores, ladrões ou peças de uma ditadura que acabou há três gerações.   

   E tudo nos últimos anos só piorou, porque um partido essencialmente rançoso chegou ao poder – o PSDB. Um partido que não questiona as instituições que se acovardaram na ditadura, se mascara de santo, inverte valores e com isso só aumenta a insegurança pública. O Conselho da Polícia Civil a todo início dessas gestões tenta convencer de que devemos abrir as portas da esperança. Mas tudo é um engôdo. Elas só são usadas para distribuir favores e privilégios aos adeptos desse poder.    

   Os intelectuais tucanos - como fazem com as pessoas que não tiveram oportunidade na vida - IGNORARAM E SUBESTIMARAM NOSSOS APELOS, BEM COMO NOSSO PODER DE REAÇÃO. E de forma cívica e legal chegamos à GREVE.

   Agora, vem o governo alardear que não negocia com grevistas, que o movimento é político e de uma minoria.  É uma insensibilidade, uma insensatez, uma reação funesta que passou do tolerável. Colocamos até anúncio na TV reclamando que o governador não abria suas portas. E fomos CENSURADOS. Mas essas atitudes cada vez mais claras do governo estadual só nos fortalecem. A população sabe que trabalhamos precariamente as 24 horas do dia. Que o Delegado é o único no mundo jurídico que aplica a lei nas madrugadas, feriados etc. Que somos obrigados a cuidar de depósitos de presos da JUSTIÇA, ou desviado das funções para levar presos, com risco de resgate, para audiências marcada para às 13h, atendidas às 17h  ou adiadas. Enquanto outros usurpam nossas funções. Exemplos da opressão nojenta que estão nos impondo. Ainda assim,  somos sem dúvida, a melhor polícia do Brasil.

   Enquanto o governo fecha suas portas e só recebe informações filtradas da PM, a Polícia Civil tem as suas sempre abertas, até para ser atacada pelo crime organizado e vê seus homens serem assassinados covardemente e esquecidos por esses governantes e editorialistas da grande imprensa.                        

   O Estado tem recursos. A Polícia Civil, consciente, quer dignidade e que os vencimentos defasados sejam justos. Não queremos nenhuma vinculação com a PM. Nem os salários altíssimos e injustos que muitos recebem de uma Nação tão carente. Enquanto um cientista não tem verba para a pesquisa, perguntamos: - Como pode um procurador ganhar R$ 55 mil, promotores por volta de R$ 22 mil, agentes do MP, burocratas do Judiciário e fiscais trabalhando à luz do dia, receberem 3 ou 4 vezes mais que os policiais civis que ficam diuturnamente à disposição da população? E o segundo holerite da caixa preta dos oficiais da PM? E os advogados gratuitos de criminosos recebendo até R$ 14 mil? Esse time restrito de privilegiados ainda suga mais o país através de gratificações, disponibilidade remunerada, ajudas de custo, acúmulo de cargos, substituições, recessos, viagens de “estudo”, congressos turísticos e o que aparecer para arrancar o dinheiro público de escolas sem giz e hospitais sem esparadrapo. Com tudo isso, o governo ainda aprova para essas carreiras, rapidamente, reajustes absurdos. No início do ano o MP recebeu 80% de imediato. E para a Polícia Civil o governo oferece migalhas não incorporadas (6.2% depois alardeia 6.5% para o ano que vem) e a tortura de intermináveis promessas de negociação. É muita humilhação! Segundo o DIEESE nossa defasagem é de 96%, pedimos 15%. Não queremos mais gratificações oportunistas e sim a incorporação dessas esmolas. Porque com essa demagogia de penduricalhos, o policial civil não pode se aposentar, perde quase a metade de seus vencimentos. Tem de ficar até a expulsória aos 70 anos. Enquanto os outros acima recebem aposentadoria especial e integral. Na PM, de cada 18 oficiais, 17 foram para a reserva, com cerca de 50 anos. Nenhum país agüenta isso!

   O governo, cinicamente, pediu a suspensão da greve. Paramos por 48 horas. No primeiro dia técnicos do terceiro escalão receberam nosso pleito.  No outro, o poderoso do partido não gostou das propostas e zerou o diálogo.    

   Até onde esse governo quer nos levar. Ao inferno? Faltou pouco. Com a esperança de sermos recebidos por alguém, cordialmente, do Palácio dos Bandeirantes, fomos recebidos por uma tropa de choque com gás lacrimogênio, balas de borracha e até tiros. A imprensa e o governo destacaram um oficial lesionado. Ninguém realçou os nossos. Contabilizamos mais de 50 feridos, muitos não passaram por hospitais. Dezenas de manifestações foram feitas pelo interior e na capital – em nenhuma usamos armas ou ameaçamos a população. Ao contrário – ofícios de apoio dos mais variados segmentos da sociedade são recebidos a todo o momento. As Polícias Civis do Brasil, revoltadas com o descaso do governo de São Paulo, estão solidárias.

   E, em mais uma etapa desse plano contra a Polícia Civil, sem negociação, o governo envia à Assembléia Legislativa o seu projeto de aumento, que além de não convencer ninguém é extensivo a outras corporações. Tudo para embolar e prejudicar nossas pretensões, inclusive dando aumento maior a quem pode fazer bico ou exercer a atividade em setores da atividade privada. Por que o governo não lembra da Polícia Civil quando oferece generosos aumentos e vantagens as carreiras da Justiça, MP, da Procuradoria?  Todos sabem que esse Legislativo só diz amém ao Executivo. Vai ser mais guerra que teremos de travar em defesa de nossos direitos. O governo paulista só não quer ser o Pior Salário Do Brasil.

   Afinal, quem manda nesse Estado? Os teóricos rançosos do PSDB que estão no poder? A Polícia Militar, controlando todo tipo de informação que é passada aos 3 Poderes? A imprensa que controla até o horário que vai ser invadido um cárcere privado? ALGUMA COISA PRECISA SER FEITA. Achamos que teremos de recorrer à OIT e outros órgãos internacionais, porque até essa imprensa, que nunca publicou um edital nesses anos alertando de nossa situação, agora fica ao lado da falácia governamental.

    BASTA! Os policiais civis do Estado de São Paulo estão dispostos a tomar qualquer tipo de atitude ou enfrentar qualquer obstáculo para dissolver esse ranço. Porque esses atos de barbárie do governo e esse cinismo editorial da imprensa contra a nossa dignidade, além de atingirem nossa vida profissional, estão afetando nossos familiares. Amamos a nossa carreira. E nossa UNIÃO e CORAGEM é para demonstrar que não estamos do lado de bandidos e sim em defesa da população.

     JUSTIÇA! 

 

Marcos Antonio Gama

Delegado de Polícia

Publicado por Akasha De Lioncourt
em 08/11/2008 às 20h55
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