Depois do confronto de ontem entre policiais civis e militares - que deixou pelo menos 25 feridos - nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, sindicatos de policiais civis de diferentes Estados do País começaram a articular um movimento nacional em apoio aos grevistas e em repúdio à maneira que eles classificam como "desrespeitosa" com que o governo paulista tem tratado os policiais.
O diretor do Sindicato da Polícia Civil do Distrito Federal, Luciano Marinho de Moraes, integrante da Comissão de Segurança Pública do Congresso Nacional, iniciou contatos com sindicatos de Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. "Caso o governo do Estado não dê uma resposta rápida às reivindicações, na semana que vem vamos paralisar as Polícias Civis de todo o Brasil por um dia."
Ele também disse que hoje vai passar nos gabinetes de deputados e senadores para apresentar moção de repúdio ao atual secretário de Segurança Pública de São Paulo, Ronaldo Marzagão, e ao governo de José Serra.
Na noite de ontem, os líderes das associações e sindicatos de policiais de São Paulo não sabiam de que forma retomar a negociação com o Estado, após um mês de greve. Na semana passada, a categoria suspendeu a paralisação por 48 horas, na tentativa de dialogar com o governo. A expectativa era de que fosse feita uma nova proposta. O que não ocorreu.
"Aconteceu o que mais temíamos. Eu havia alertado o senadores Sérgio Guerra (PSDB), Aloizio Mercadante (PT) e Romeu Tuma (PTB), anteontem, de que era preciso negociar. Estamos em uma crise profunda. Não sabemos ainda as conseqüências que ela terá", afirmou o delegado Sérgio Marcos Roque, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, a maior e até então mais representativa entidade da Polícia Civil.
-
Tropa de Choque da PM e policiais civis entraram em confronto na região do Morumbi, na zona oeste
-
Carros da PM e a cavalaria foram acionados; houve confronto entre policiais e manifestantes
-
Policiais civis tentaram passar pelo cordão de isolamento da PM para chegar ao Palácio dos Bandeirantes
O problema era todo em torno do índice de reajuste dos salários. O governo propõe aumento linear de 6,2% a policiais civis da ativa, aposentados e pensionistas; aposentadoria especial; reestruturação das carreiras com a eliminação da 5ª classe e a transformação da 4ª classe em estágio probatório; e a fixação de intervalos salariais de 10,5% entre as classes. O governo diz ainda que quer reajustar em 38% o salário base dos delegados.
O confronto com a PM
Na tarde de ontem, policiais civis entraram em confronto com policiais militares quando agentes da Polícia Civil, em greve há um mês, realizava passeata de protesto no local para pressionar o governo do Estado a retomar as negociações pelo fim do movimento.
Os manifestantes tentaram chegar ao Palácio dos Bandeirantes -sede do governo paulista-, mas foram impedidos pelo cordão de isolamento da Tropa de Choque da PM. Soldados reprimiram a passeata com o uso de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Mais de 20 pessoas ficaram feridas, sendo uma delas um
cinegrafista de uma emissora de televisão, e um
policial militar. O hospital Albert Einstein informou, por meio de sua assessoria, que 13 feridos deram entrada no pronto atendimento, mas nenhum está em estado grave. Cinco pessoas já foram liberadas. No hospital Itacolomy, outras cinco pessoas foram atendidas: quatro já foram liberadas e uma está sob observação, mas passa bem. No hospital São Luiz mais cinco foram atendidas; todas já receberam alta. E no Hospital Universitário mais duas pessoas foram atendidas e liberadas em seguida.
Segundo informações preliminares da Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado de São Paulo, havia cerca de 5.000 policiais na manifestação.
Segundo nota do Palácio dos Bandeirantes, o confronto começou no momento em que o comando grevista aceitou proposta do governo estadual de enviar um representante ao local onde estava concentrada a manifestação para receber um documento com a posição dos manifestantes.
Em entrevista ao SPTV, da TV Globo, o governador de São Paulo, José Serra, criticou a manifestação dos policiais civis. "A maneira de fazer reivindicação não é pegar armas que estão destinadas ao enfrentamento de bandidos e apresentar em manifestações. É um movimento, enquanto movimento armado, absolutamente ilegal", disse, acusando os policiais civis de usar armas do Estado durante o protesto. A jornalistas, Serra
afirmou que a manifestação tem cunho político.
Em
resposta, os policiais civis rebateram a declaração de Serra e culparam o governo pelo confronto. Já a CUT divulgou uma
nota em que acusa Serra de "ludibriar a opinião pública".
O trânsito ficou complicado na região do Morumbi e a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) pede que os motoristas evitem circular pelo local.
Área de segurança
O governo do Estado divulgou uma nota dizendo que a ação da PM se deve ao fato de a área que circunda o Palácio dos Bandeirantes ser considerada de segurança.
"As vias públicas situadas ao redor do Palácio dos Bandeirantes, sede do Poder Executivo Estadual, são consideradas pela Resolução SSP (Secretaria de Segurança Pública) 141, de 20/10/1987, Área de Segurança. Por esse motivo, todas as manifestações populares programadas para esses locais são obrigatoriamente desviadas para áreas próximas, que não se encontram na zona delimitada pela resolução, que abrange as avenidas Morumbi e Giovanni Gronchi e as ruas Combatentes do Gueto, Rugero Fazzano e Padre Lebret", diz a nota.
Cordão de isolamento
Por volta de 15h15, as lideranças do movimento grevista anunciaram aos manifestantes que o governo havia concordado em receber uma comissão dos grevistas. Os policiais, entretanto, seguiram em passeata. Os militares fizeram um cordão de isolamento tentando impedir o avanço.
Com informações da Agência Estado