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23/09/2008 19h57
Greve legítima - Matéria publicada no Jornal da Cidade de Bauru (20/09/08)
20/09/2008
Greve legítima
Vivemos hoje em estado de inegável inversão de valores. Os nossos policiais que visam proteger os cidadãos ingressam nas favelas e são recebidos a tiros, enquanto traficantes são idolatrados pelos moradores dessas mesmas habitações multifamiliares.

A explicação é simples, pois, desde crianças os moradores das favelas recebem auxílios médicos e cestas básicas, sem olvidar do que eles chamam de “trabalho”, auxiliando o tráfico de drogas, agindo como “aviões”. Assim, os traficantes assumiram a função social que pertence ao Estado e União, oferecendo alimentação, moradia, medicamentos e “trabalho”, enquanto o próprio Estado e a União não dedicam atenção merecida a essa camada sofrida da população.

Portanto, justificável, o sentimento arraigado nos moradores das favelas já que os policiais atacam seus paladinos e por tal motivo, impera também nesses locais, a lei do silêncio, dificultando, sobremaneira, as investigações policiais.

Esse mesmo Estado, que deixa de cumprir sua função social para com a camada mais carente da sociedade, também não fornece subsídios necessários para que os abnegados policiais possam combater a criminalidade e, não é necessário ser advogado criminalista para saber que as delegacias de polícia sobrevivem de doações de computadores e impressoras, isto quando não são comprados com o dinheiro do próprio bolso.

Ora, chega de balelas e propagandas quixotescas sobre salários e aumentos que nunca existiram e raramente, quando ocorrem, não incorporam o salário dos policiais. Caso fossem verdadeiros todos os aumentos que o Estado ventila ter ofertado aos milicianos, não veríamos tantos delegados de polícia e investigadores aposentados ainda trabalhando para manter suas famílias.

Gostaria que todos que lessem este artigo refletissem bem!!! Será que é assim que devem ser tratados os cidadãos que sempre defenderam a pátria com honestidade, dignidade, coragem, abnegação e honradez?

Não pensem vocês que os policiais estão contentes com essa greve, pois, ao escolher essa árdua profissão, sabem o risco que correm mas têm imenso prazer em “efetuar uma cana” e também é triste para eles, deixar de cumprir a missão que a sociedade espera vê-los desempenhando, contudo, não lhes resta outra alternativa, pois, a situação da polícia é de total abandono.

Inegável, que às vésperas das eleições aparecem viaturas novas, armamentos e até helicópteros para combater a criminalidade, mas os policiais sabem que a verdadeira realidade é outra e, pior que tudo isso, é a obrigação de manter o sigilo sobre os imensos problemas que enfrentam já que não têm a garantia constitucional da inamovibilidade assegurada a tantas outras carreiras jurídicas.

Aproveita-se disso, o Estado, para ameaçar e chantagear os sofridos policiais que têm suas famílias radicadas, geralmente, próximas aos locais que trabalham. Vou mais adiante, pois acho que além de um merecido aumento salarial, também necessitam, esses policiais, da equiparação constitucional às carreiras que não permitam a transferência de funcionários públicos por mera liberalidade ou perseguição.

O que causa maior tristeza, porém, é ver que, enquanto o Estado trava verdadeira queda de braço com os seus principais aliados, deixa crescer, de modo desenfreado a milícia que se autodenomina PCC. Espero que não chegue o momento em que essa organização comece a seqüestrar e matar senadores, governadores, deputados e prefeitos, pois, caso isso aconteça será o início de uma verdadeira guerra civil que vem sendo previamente anunciada há muito tempo e, para enxergá-la basta lançar um olhar linceano sobre o modo como estão cada vez mais organizados.

Talvez aí então o Estado reconheça que é o momento de pagar melhor aqueles que protegem a população com a maior riqueza que Deus lhes deu: sua própria vida!!!


O autor, Sérgio Ricardo Rodrigues, é advogado criminalista e procurador do município de Bauru
Publicado por Akasha De Lioncourt
em 23/09/2008 às 19h57
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