Bistrô da Poesia
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02/02/2008 16h48
Uma Reunião Espírita

                        Uma Reunião Espírita


    No dia e hora marcados para a orientação dos socorridos do Túnel Negro, fui ao Centro Espírita e lá me encontrei com Elisa.

   - Patrícia - disse ela -, estou ansiosa e também preocupada. Será que Walter irá aceitar a ajuda oferecida?

   - Espero que sim - respondi. - Como estão eles? Como está Walter?

   - Mostram-se como os deixamos, somente alguns mais agitados. Serão trazidos do Posto para o salão logo mais.

   Construído da mesma substância do perispírito, o Posto de Socorro está acima da construção material do Centro Espírita. Muitos Centros têm um pequeno hospital assim, um lugar de emergência, representando a continuação da construção material. Quase sempre essa continuação de auxílio tem um pequeno ou mini-hospital para os primeiros socorros e, também, locais para moradia de alguns desencarnados que lá trabalham. São muito úteis, mas sempre singelos e acolhedores. Quando o Centro Espírita tem Posto de Socorro, os socorridos ficam provisoriamente nesse lugar e são trazidos ao local da reunião mediúnica, pouco antes de seu início. O Posto do Centro em que estávamos é muito bonito, com quadros de lindas paisagens, além de flores, alegrando a entrada.

   Enquanto aguardava, fui rever amigos desencarnados. Após muitos abraços e conversas, tomamos nossos lugares, porque logo começariam os trabalhos programados. Meu pai sempre chega bem antes da hora e lá fica orando e meditando. Porém, muitas pessoas chegam também antes, para conversar com ele e sanar dúvidas, no que procura ele atender a todas. Os encarnados foram chegando e me sentia bem em vê-los, pois convivi com muitos deles e alegrava-me por tê-los como amigos. Emocionada, escutei meu pai:

   "Muito se tem dito sobre o significado das parábolas do Mestre Nazareno. No Ocidente, quase a totalidade das pessoas se dizem cristãs. É indiscutível ter sido Jesus o maior espírito de que temos notícia, expoente em valores e qualidades dentre todos os instrutores conhecidos pela nossa humanidade. E nós, cristãos, conhecemos e deveríamos compreender os ensinos de Jesus e ter seu exemplo como meta de vida. Vangloriamo-nos sempre de ser seus seguidores, porém, a maioria de nossas atitudes, nossas reações diante das relações que a vida nos impõe, não diferem muito das pessoas ditas não cristãs. Não estaria algo errado? Admitindo-se que sim, não seriam naturalmente os ensinamentos de Jesus mas, somente, a nossa maneira de entendê-los ou traduzi-los em nossa forma de viver. Criamos uma complexidade enorme em nossa estrutura psíquica, em nosso patrimônio espiritual, e nos consideramos repletos de créditos, de conhecimentos e posições, que apenas existem por uma auto-valorização de nossos próprios atos. Nossas ações estão, erradamente, baseadas na reciprocidade, de vez que não sabemos fazer nada sem esperarmos retorno ou ganho pelos nossos atos. Não costumamos gravitar em torno do centro da vida, que é Deus. Com exceção de poucos, o ponto em torno do qual gravitamos é o nosso próprio ego. Nossos pensamentos e ações têm o próprio benefício como fim. Aprendemos a somente adorar a Deus, o que nos é muito fácil, porque não nos exige nem esforço físico e nem gastos financeiros e, assim, não sabemos ainda vê-Lo e amá-Lo nas suas manifestações mais simples. Amá-Lo na sua onipresença requer sensibilidade e visão acurada da realidade dos fatos da vida. Temos conhecimento, através dos relatos de desencarnados, que esse sentimento de ganho e perda nos acompanha após a desencarnação. Instituem-se, então, nas Colônias, o bônus-hora para que os recém-chegados, condicionados ao ganho, não se sintam desestimulados para o trabalho. O bônus-hora é um incentivo ao espírito ocioso, ou, em outras palavras, ao espírito que ainda vive em função da sua própria pessoa e que ainda não conhece o valor do bem coletivo. Recebem provisoriamente esse tipo de ganho, para que tenham estímulos no trabalho em seu benefício e de seu próximo, até que entendam o trabalho desinteressado.

      Amar a Deus é tê-Lo como centro da própria vida, vê-Lo, senti-Lo, ter afeto por Ele em todas as suas manifestações. Jesus disse: "Senhor, graças te dou por ter ocultado isto aos sábios  e prudentes e revelado aos simples e pequeninos". Sábio não é o mesmo que erudito, o que muito conhece, que tem a qualquer momento de cor as citações do patrimônio intelectual e religioso da humanidade. Não condenamos o conhecimento dos livros sacros, pois eles nos são necessários, mas reprovamos a maneira como muitos o utilizam. O conhecimento representa um meio para que conheçamos a experiência dos que nos antecederam. Esses arquivos ajudam o ser humano na evolução, mas devemos crescer pela conduta reta, pelo espírito. E para que esses ensinos façam parte de nossa vida, é necessário que o exemplo do Nazareno seja compreendido e não decorado, como temos feito há quase dois mil anos. Ao compreendê-los veremos que Jesus via e vivia, assim já não mais faremos a Sua vontade e sim a nossa, que passa a ser como a Dele, porque veremos como Ele o que é falso e o que é verdadeiro.

   Disse Jesus aos seus apóstolos: "Ide, ensinai, curai para que quando os homens virem suas boas obras glorifiquem o Pai que está nos céus". Quanta simplicidade, quanta humildade! Praticar os maiores benefícios à humanidade e esquecer não só do ganho pecuniário e, também, de qualquer agradecimento ou reconhecimento do beneficiado. Fazer por amor à vida que se manifesta no necessitado e em si mesmo, e agir de tal forma que possamos ver em cada ser humano a imagem e a manifestação de Deus. E não devemos incentivar o culto da idolatria da personalidade de José, Sebastiana, Maria, Antônio" (14)

Um freqüentador indagou a meu pai:

  - Por que tenho tantos conflitos? Como poderei eliminá-los?

  - O maior drama do homem não está na pressão do meio, nem nas dores externas. A própria morte física é passageira - respondeu meu genitor. - O grande drama, a grande dor é o conflito que existe entre o que somos e o que nos ensinaram que deveríamos ser. Temos aprendido que necessitamos reprimir os impulsos egoístas, para poder viver bem com nosso próximo. Enquanto estivermos valorizando mais a vontade de outros, seja quem for, o conflito permanece e não haverá mudança radical em nosso relacionamento com a vida. Porque, apesar de achar certo fazer o que eles querem, e disto esperar créditos e ganhos, a realidade é que ainda permanece a vontade de fazer o que se gosta.

   Temos nosso ego quase sempre colocado como o centro do Universo, devendo girar tudo em torno de nosso prazer e satisfação. Essa é geralmente nossa conduta, mas a vida não sabe e não se importa com nada disso, porque ela tem seu próprio caminho. E aí, insatisfeitos, nos frustramos, ficamos inconformados e, às vezes, nos revoltamos com o desenrolar dos acontecimentos. Assim, batemos de frente com a realidade e

 perdemos todo o interesse de nos importarmos com a vida. Por  isso, precisamos aprender a aceitar a vida como ela é, sem  querer que seja diferente. Mudar para melhor está em nossas  mãos, como também aceitar sem contestações o que a vida  nos proporciona, mesmo aparentemente em situações e circunstâncias desfavoráveis, pois é nos momentos difíceis que nos superamos, isso se não tivermos dó de nós mesmos. Precisamos compreender que não somos somente filhos de Deus, mas muito mais, pois que fazemos parte de Sua própria manifestação. Compreendendo isto, entenderemos a diferença existente nos dois filhos, na parábola evangélica do Filho Pródigo. O mais velho nunca saiu de casa, sempre fez a vontade do Pai, mas viveu sempre insatisfeito, porque no seu íntimo não sentia as coisas do Pai como suas. E o Pai não o sentia perto de si, apesar de amá-lo muito. O mais novo, depois de se afastar, de esbanjar o que lhe pertencia, conheceu a si próprio e compreendeu que ele e o Pai eram um só. E, se eram um só extinguiram-se aí todas as cobranças, todos os conflitos, permanecendo somente uma única coisa, a unidade com Deus, em todas suas manifestações.

     Agora, se pretendermos amenizar os conflitos e as dificuldades que possam nos perturbar, lembremo-nos das palavras de nosso Mestre, diante de circunstância semelhante: "Vinde a mim todos vós que andais cansados e sobrecarregados, que eu

  vos aliviarei, pois meu jugo é suave e meu peso é leve". O amado Mestre era viril em todas suas respostas, não no sentido de machismo, mas de pureza, simplicidade e inocência austera. Dificuldades sempre as teremos, porque relacionamento é atrito de interesses. E toda cadeia de vida é um constante atrito de funções das manifestações de Deus. E o conjunto harmônico de todas suas funções compõe a sintonia do Universo. Particularmente, esse atrito se traduz pelo conflito entre o que queremos

  que seja e o que realmente é. Esta resposta é para aqueles que querem mais profundamente ter a visão do que realmente somos. Se você não compreender - falou referindo-se ao jovem que o indagara -, fique com a primeira parte, que vai amenizar

muito sua maneira de viver seus conflitos. Uma médium que há tempo freqüenta a casa, trabalhando regularmente, relatou seu drama íntimo, reclamando que Deus foi e tem sido injusto com ela.

   - Minha filha - respondeu meu pai, tratando-a de forma carinhosa -, pensarei no seu caso e verei como amenizar seu drama.

   Isso acontece em algumas situações que requerem um estudo maior, com a procura de soluções para os inúmeros problemas que lhe encaminham, mas nunca deixando de

atender a quem quer que seja. Quase sempre responde de imediato, mas, nesse caso, ele teria que meditar para achar a melhor maneira de ajudá-la.

   A reunião começou e transcorreu tranqüilamente, conforme narrarei no capítulo seguinte. Tempos depois me encontrei com Elisa que, curiosa, me indagou sobre esse fato:

   - Patrícia, qual foi o conceito do Sr. José Carlos sobre Deus ser justo ou injusto? Tenho certeza que ele resolveu a questão junto à médium, mas gostaria de saber a opinião dele sobre tão delicada questão: Justiça ou Injustiça Divina.

   - Elisa, não posso responder por ele. Hoje, papai está em viagem de negócios e, pelo que sei, o assunto somente poderá ser resolvido à tarde. Neste momento, está almoçando. Vamos até ele!

   Elisa me acompanhou, contente e, em instantes, estávamos ao seu lado. Papai acabara de almoçar e, não tendo nada para fazer fisicamente, entrou no seu costumeiro fluxo de pensamento.

Isto acontece normalmente quando está só e sem obrigações físicas. Então carinhosamente lhe perguntei:

   - Papai, Deus é justo para uns e injusto para outros?

   Como sempre faz, comparou um relacionamento físico entre as pessoas e o assunto questionado, simbolizando como deveria ser o relacionamento entre Deus e nós, e nós e Deus.

   Pedi a ele novamente que gravasse seus pensamentos e ele o fez em guardanapos de papel. Agora que escrevemos este trecho, pedi à médium, Tia Vera, que solicitasse a ele esses guardanapos. Gentilmente nos cedeu, e os transcrevo na íntegra.

Aí está sua resposta:

   "Normalmente, quando tudo dá certo conosco, achamos que é merecimento e que Deus nos faz justiça. Quando nos são negados nossos anseios de preenchimento mental e satisfação física, ou seja, quando não está acontecendo o que queremos, sentimo-nos injustiçados, principalmente ao nos compararmos com outras pessoas. Por que ele tem e eu não? Achamos que Deus não está fazendo justiça conosco e que estamos sendo punidos. É que trazemos cargas negativas do passado, que ocasionam frustrações no momento, existindo também atos desta encarnação que podem ser o motivo de muitas decepções. Normalmente, não enxergamos a realidade da vida e sim a  projeção das nossas ilusões, por considerarmos a vida física como fim e não como meio.

      Muitas vezes, o justo ou o injusto baseia-se, de acordo com nossa compreensão, no que damos e no que achamos que devemos receber em troca. Sentimo-nos injustiçados, porque quase sempre temos como meta nossa distração e o preenchimento da vida com prazer. Transformamos as funções e necessidades do corpo físico a capacidade de pensar como fim da nossa existência. Não chegamos a olhar a vida como um todo e a desempenhar eficientemente nossa parte neste conjunto. Já imaginaram se o coração se sentisse injustiçado por não ter folga e nem descanso físico? Que seria do homem? Diante desse exemplo, aprendemos que cada um deve fazer o que lhe compete, sem esperar recompensas, e sempre consciente de que deve utilizar o potencial nobre que a vida lhe concedeu. Apesar de insignificantes diante do cosmo, fazemos parte dele. Portanto, precisamos desempenhar nossa função como parte da vida e não viver para os nossos prazeres e conquistas, materiais ou espirituais.

     Deus não cria os seres, para puni-los ou premiá-los. Cada qual tem sua função e utilidade, assim como o grão de areia tem sua função no deserto ou na praia.Punir uma manifestação, seria reconhecer Sua própria falha. Ao comprarmos uma máquina nova, o fabricante nos dá garantia da mesma, e qualquer falha no seu funcionamento não significa a intenção do fabricante em nos punir, pois a garantia dela fará com que ele lhe restaure as funções. E, no caso, ele é o maior prejudicado, porque, além dos gastos de reposição, teria seu nome comercial prejudicado e posta em dúvida sua idoneidade. Não somos uma máquina, é certo, e a falha nunca está em Deus, e sim em nossa maneira de nos relacionarmos com suas Leis, com a vida. Na maioria das vezes, nossos ânimos e desejos não encontram ressonância nos planos traçados pela vida, por causa de nossas existências anteriores. Às vezes o que desejamos não é o que podemos ter. Quase sempre nossos desejos são saturados de egoísmo. Os da vida são saturados de grandeza, de amor e de realização plena do homem.

   Na Terra, cada variedade de raça recebe, com maior ou menor intensidade, o que necessita para desempenhar e enobrecer a espécie a que pertence. O grupo humano não foge à regra geral e natural, somente foi acrescentada em nós a faculdade da liberdade de escolha, para cumprirmos a tarefa para a qual fomos chamados. Se nos harmonizamos com as Leis Divinas, nos sentiremos felizes a caminho do progresso, enquanto que, se as desprezamos, criamos um ambiente vibratório individual de desarmonia, que poderá atingir aqueles que nos cercam, e terá ressonância de vibrações inferiores. Será que Deus criou a Terra, com todo seu aparato animal e vegetal, somente para o desfrute do homem? O ser humano foi criado para usufruir de tudo à custa dos que caminham com ele? Não! Pelos seus atos de abuso, cuja conseqüência não compreende, presume que Deus lhe está sendo injusto. Temos quase sempre, em nossas existências, buscado o significado da vida, tentando adivinhar por que razão Deus criou o homem. Talvez façamos isso, por darmos importância demais em pensar o que somos, ou pelos sentimentos que nos transmitiram, de tão importante questão. Deus é profundamente simples. Para que possamos ouvi-Lo e senti-Lo, é preciso antes de tudo ser simples como Ele. Um exemplo da simplicidade de Deus é sua onipresença tanto em nosso Cristo, quanto num verme desprezado por todos. Devemos nos despojar do cultivo da auto-valorização: vaidade, orgulho e presunção, para nos tornarmos melhores. Se não assumirmos nossa participação no conjunto do orbe terráqueo, nos sentiremos excluídos de obrigações e responsabilidades. E aí, o que acontece com os habitantes da Terra? A conseqüência é esta que estamos vendo: destruição e devastação do que a natureza levou milhões de anos para realizar. Não nos sentindo parte do Universo, parece que estamos no mundo somente para usar e desfrutar as coisas, não tendo nada a responder, sem responsabilidades com o que acontece com tudo e com todos, alheios aos que sofrem dores e misérias.

   Não podemos compreender Aquele do qual estamos separados e, enquanto assim estivermos, não faremos parte do todo. Ao contrário, se participarmos do todo, seremos um só. Não haverá nem o maior, nem o menor, porque nosso pequenino eu   se perderá, diante da grandeza e importância do Universo. Que restará, então, para nós e para nossa espécie? Viver e neste viver, conhecer e compreender nossas funções e as dos que nos cercam, compondo assim um todo harmônico. Aquilo que os irracionais fazem instintivamente, o homem deverá fazer consciente e espontaneamente. Os irracionais não têm escolha, o homem pode escolher. Pode recusar ou participar do Banquete Divino, que é a própria vida, refletindo assim a simplicidade e o equilíbrio do macro, refletido no micro. Não teremos, então, nenhuma pretensão, por situações anteriores posteriores, ou do momento presente, pois elas são produtos do egoísmo oriundo da mente temporal. E Deus é atemporal.    Deus é, também, profundamente justo. Não há desvios nem preferências em suas leis. Recebemos de acordo com o que fazemos, sendo que nossas vibrações são resultados de nosso estado interior, e que nos proporcionarão ligações com vibrações harmoniosas ou perturbadas, a causar dor e angústia, ou a felicidade. Conhecendo a Lei da Reencarnação, entenderemos melhor a Justiça Divina. Compreendendo Deus, veremos que tudo que Ele faz é justo, pois nada deve a ninguém. Tudo o que recebemos é graça e de graça, nada temos feito para ter crédito com Deus. E, por mais que façamos, procede d'Ele o potencial da vida, a capacidade e a oportunidade de agir Se vivermos esta verdade, nunca se abrigará em nossa mente a questão de Deus ser justo ou injusto. "Meu pai é meu mestre. Alegro-me muito aprendendo com o que ele diz.

 14 - As passagens citadas do Evangelho não estão na íntegra e nem cito  capítulo ou versículo. Escrevendo os ditos de meu pai, fiz como ele costuma fazer, nada decorado, sim compreendido. (N.A.E.)

(Capítulo do Livro “O Vôo da Gaivota”, psicografado por Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho, narrativa espiritual de Patrícia)

Publicado por Akasha De Lioncourt
em 02/02/2008 às 16h48